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Volume de transações entre bancos reage e cresce 7,31%

Abalados ano passado pela crise de confiança que se instalou no sistema bancário mundial

Adriele Marchesini
 
Abalados ano passado pela crise de confiança que se instalou no sistema bancário mundial, os estoques de depósitos interfinanceiros (DI) na Cetip dão sinais de que o início de 2009 é marcado por um leve crescimento na confiança entre instituições financeiras. Conforme os dados, no acumulado de 2008, tomando como base 2007, houve um crescimento inferior a 4% no volume, com o total saindo de R$ 438 bilhões para R$ 455 bilhões no intervalo de tempo. Já nos primeiros 16 dias de 2009, em comparação ao mesmo período do ano passado, o avanço foi superior: 7,31%, com o montante passando de R$ 433,755 bilhões para R$ 465,463 bilhões. Analistas ouvidos pelo DCI informam que o incremento pode significar uma retomada do mercado, mas que não deve ser visto com muito otimismo por conta da instabilidade internacional que ainda compromete esse tipo de transação.

"Pode ser que esse aumento seja resultado de uma troca de chumbo [operações muito volumosas] entre bancos grandes, o que elevou a média. Mas pode ser que esteja mesmo aumentando", ponderou o sócio da Integral Trust, Roberto Troster, que já atuou como economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). "Com certeza, as operações pararam de piorar, mas ainda não estão a todo o vapor", comentou.

Os DIs são títulos de emissão das instituições financeiras que lastreiam as operações do mercado interbancário, possibilitando a transferência de recursos entre instituições superavitárias e aquelas com caixa mais aperto e, dessa forma, garantindo liquidez ao sistema. Portanto, quanto maior a demanda por crédito na sociedade, também maior é a necessidade de que os intermediadores recorram ao artifício.

Para se ter uma ideia, quando, em 2007, o mercado de empréstimos e financiamentos explodiu mais de 30%, pela média, os estoques de DI aumentaram mais de 70% na comparação com 2006, passando de R$ 252,9 bilhões para os R$ 438 bilhões já citados anteriormente. Entre 200 - quando o volume somava R$ 175,5 bilhões - e 2006, o crescimento foi mais ameno, mas ainda pujante: 44%. Na avaliação de Luiz Jurandir Simões, consultor da Fipecafi, é preciso levar em consideração que, devido à menor demanda neste ano, as linhas interfinanceiras, por mais que apresentem uma recuperação, não devem atingir as proporções de 2007. "Aquele patamar era exagerado, o comportamento deste ano deve ser mais sereno. As empresas não farão tantos investimentos nos próximos meses e não devem demandar muito crédito. Existe a expectativa do aumento do desemprego, principalmente por conta das demissões no setor industrial. É natural haver um desaquecimento", comentou o acadêmico.

Os DIs Imobiliários, que se referem a operações focadas no segmento de empréstimo e financiamento habitacional, cresceram 40% entre janeiro e dezembro de 2008, saindo de R$ 316,9 milhões para R$ 453,6 milhões. Em 16 de janeiro, o montante estava em R$ 455,77 milhões, um crescimento ainda na ordem dos 40% sobre o mesmo período de 2008, que contabilizava R$ 315,57 milhões.

Taxas

A taxa over média teve uma pequena retração entre dezembro e meados de janeiro, passando de 13,62% para 13,61%, mas ainda estão acima da cobrança verificada no fim de 2007 (11,12%) e no início de 2008 (11,09%). "O que temos visto ao longo dos últimos meses, passado o auge do nervosismo entre outubro e novembro, é que o fato das taxas estarem elevadas trouxe um atrativo para a renda fixa. Neste início de ano elas estão mais fracas, e devem cair nos próximos meses", comentou o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto. "Claro que a situação tende a chegar em uma normalidade ao longo do ano, mas não em um curto espaço de tempo, porque a confiança se instala pouco a pouco", ponderou o executivo.

É preciso levar em consideração, lembrou Campos Neto, que o mercado brasileiro ainda estão muito ligado às notícias internacionais. Um exemplo citado foi o caso do Royal Bank of Scotland, que anunciou ontem um possível prejuízo de aproximadamente US$ 40 bilhões em 2008, por conta da deterioração do crédito. "Não tem como fazer projeção para o cenário em 2009 porque depende muito de como a situação vai se acomodar no exterior. O sistema financeiro mundial ainda não está recuperado. Houve uma melhora, mas ainda há muito o que evoluir", comentou o economista.