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Câmara aprova cadastro sobre bons pagadores
Lei que cria cadastro positivo ainda precisa passar no Senado e da sanção de Lula; para governo e bancos, medida pode reduzir juros
Depois de seis anos de discussões no Congresso,  foi aprovado ontem pela Câmara o projeto de lei que cria o cadastro positivo,  nome dado aos bancos de dados contendo informações sobre bons pagadores. Para o  governo e para os bancos, a medida pode ajudar a reduzir o custo dos empréstimos  no país.
Antes de entrar em vigor, o projeto ainda precisa ser votado pelo  Senado e sancionado pelo presidente da República, o que não tem data para  acontecer. O cadastro positivo funcionará de maneira semelhante aos atuais  serviços de proteção ao crédito, que mantêm informações sobre pessoas que  atrasam -ou já atrasaram- o pagamento de uma ou mais prestações de algum  financiamento.
A diferença é que, além disso, passará a ser incluído nos  bancos de dados o devedor que paga compromissos em dia. A ideia é permitir que,  ao conceder um empréstimo, as instituições financeiras possam ter acesso a todas  as transações que já tenham sido feitas por quem pede novo crédito.
Ao  conhecer com mais precisão o histórico dos clientes, os bancos podem, em tese,  calcular melhor o risco de inadimplência de novo financiamento e, assim, cobrar  juros menores de quem puder comprovar que não costuma atrasar o pagamento de  suas dívidas.
Argumento semelhante foi apresentado em 2005 para justificar a  aprovação da nova Lei de Falências. Na época, os bancos defendiam que um dos  motivos que explicavam os altos juros no Brasil era a dificuldade que havia para  executar a cobrança de dívidas, especialmente nos casos de empresas em falência  ou concordata.
A Lei de Falências serviria, então, para facilitar a cobrança  de dívidas nesses casos, e a menor incerteza jurídica sobre o processo de  execução ajudaria a reduzir os juros. Mesmo depois de aprovado o projeto, porém,  o custo do crédito no país continuou elevado.
Contas de água e  luz
Ontem, o principal ponto de discórdia entre os deputados era a  possibilidade, prevista no projeto original, de incluir em cadastros negativos  os consumidores que atrasassem o pagamento de contas de consumo, como água e  luz. "Nesses casos, já há punição específica, que é a interrupção dos serviços,  além de multa e juros", disse Flávio Dino (PC do B-MA).
O relator do projeto,  deputado Maurício Rands (PT-PE), acabou retirando esse item do projeto para que  ele fosse aprovado. Foi mantida, porém, a possibilidade de incluir no cadastro o  consumidor que pagar esse tipo de conta em dia.
Assim como já acontece hoje,  o cadastro positivo será administrado pelo setor privado. Qualquer empresa  poderá realizar esse serviço, desde que respeite as exigências feitas pela nova  lei, como a manutenção do sigilo das informações.
A adesão ao novo cadastro é  voluntária, ou seja, diferentemente do que acontece nos atuais serviços de  proteção ao crédito, é preciso que o consumidor autorize a inclusão de seu nome  no banco de dados.
No caso dos atuais serviços de proteção ao crédito,  continua valendo a regra que permite a inclusão automática no banco de dados  daqueles que atrasarem o pagamento de suas dívidas, desde que a pessoa incluída  no cadastro negativo seja avisada previamente sobre essa inclusão.